domingo, 28 de junho de 2009

Ponte de Lima 1963 (IV)






Sequência de vídeo retirada do documentário da RTP sobre Ponte de Lima inserida na série "Terras de Portugal" de 1963
Direcção e realização do jornalista limiano Reinaldo Varela.

Música: Aphex Twin - Avril 14th

Citação

"O areal tem, actualmente e do meu ponto de vista, na forma geral da vila uma função essencial: permitir a entrada de ar e de luz, permitir a respiração, e, dessa forma, suscitar a compreensão de um certo telurismo que justifica muitas das características de Ponte de Lima. Nessa medida, o areal deve ser sempre simples areal, um espaço público que nos permita fruir os elementos naturais, o casario, a ponte, o horizonte, as montanhas e o céu, sem intrusões visuais significativas ou intervenções que nos façam esquecer todo o espaço envolvente. Um areal, assim entendido, valoriza o edificado, dando-lhe monumentalidade. Um areal, assim sem outra função, reconduz Ponte de Lima às suas origens."


José Carlos de Magalhães Loureiro
in Anunciador das Feiras Novas

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Património


Na última semana foi inaugurado o monumento evocativo da Lenda do Rio Lethes- Rio do Esquecimento nas margens do Rio Lima em pleno centro histórico. É uma obra "malfadada" desde os primeiros movimentos de terra no areal que faziam adivinhar a sua inusitada implantação em local historicamente reservado à inconstância das águas. Um grave erro facilmente perceptível neste primeiro passo da obra. O segundo passo materializado na colocação da estatuária fez jus às piores expectativas. O tradicional enquadramento paisagístico da ponte medieval e casario com o seu ar bucólico sofre um duro golpe com este "ruído" naquele imenso vazio do areal. É certo que esta lenda já estava, e muito bem, representada num painel de azulejos em espaço nobre (numa das esquinas do Mercado Municipal), baseado numa bela tapeçaria de Almada Negreiros presente num Hotel de Viana. Desta forma, este novo monumento apenas pretende recalcar e reivindicar a lenda para o actual local. Esta insólita intervenção no areal , pousando uma base de betão para acolher arte figurativa abre um precedente grave neste espaço eminentemente moldado pela natureza justificando acções futuras. Por outro lado, o facto de não estar inserido num plano mais abrangente de requalificação do areal condicionará a longo prazo esta mesma proposta. Em declarações ao Jornal Alto Minho o presidente da autarquia afirmou que este monumento pretende mostrar que Ponte de Lima é também uma vila românica (existiam dúvidas?) e que estas imagens "coloridas" irão espalhar Ponte de Lima pelo mundo (é este o postal que queremos transmitir?). As intervenções sem o devido aconselhamento e baseadas no gosto popular correm o risco de infantilizar uma ideia nobre e sobretudo não terem a capacidade de resistir ao teste do tempo. O ambicioso Plano de Valorização das Margens do Lima; um projecto meritório que marcou o início da presidência de Daniel Campelo na Câmara Municipal e que de uma forma correcta e saudável colocou os limianos a discutir uma orientação a longo prazo para o centro histórico parece pertencer ao passado. A realidade é que muito do proposto nesse plano foi construído e Ponte de Lima beneficiou de intervenções desapaixonadas mas simultaneamente sensíveis à paisagem e estrutura urbana da vila. Refiro-me a obras como o centro náutico, pousada de juventude, Festival de Jardins, mercado do gado e mercado municipal assim como o novo posto de turismo que, embora sub-aproveitados e controversos, foram amplamente divulgados fora do país em publicações da especialidade que potenciaram um novo turismo apreciador de arquitectura contemporânea e de novas abordagens ao património em centros históricos. Atitude corajosa por parte do município que não enveredou pelo caminho mais cómodo da mediocridade. No entanto, as últimas intervenções no espaço urbano, apesar de rápidas, denotam claramente a pobreza de discussão pública e sobretudo um esquecimento de saberes disciplinares de urbanistas, designers, arquitectos e escultores devidamente qualificados e que em parceria deveriam ser os actores de um palco sensível como é o centro histórico de Ponte de Lima. A dura realidade é que o turista culto sabe distinguir o património real do património postiço.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Arquitectura desaparecida em Ponte de Lima (IV)

até 1972

actualmente

Cito um texto publicado na revista Arquivo de Ponte de Lima de 1982 por João Gomes d´Abreu sobre a demolição da Casa dos Pacheco Pinto:


"A fotografia que se apresenta na primeira posição (...) constitui o único testemunho iconográfico que conhecemos da velha casa dos Pacheco Pinto, à Fonte da Vila. Foi conseguida à custa da ampliação de um bilhete postal ilustrado, por se terem gorado todas as diligências para obter uma fotografia original que enquadrasse aquela casa. Ninguém tinha, ninguém sabia quem pudesse ter. Daí, a falta de qualidade da fotogravura.
A casa dos Pacheco Pinto era, sem dúvida, um dos imóveis mais expressivos do velho casco urbano. De raiz quinhentista bem evidente (cantarias, registos epigráficos em gótico tardio) era, contudo, o séc XVII a época que mais transparecia (volumetria, proporção de cheios e vazios, tipo de fenestração, cornija e gárgulas, pedra de armas, o cunho popular) passem, embora, as intervenções sofridas posteriormente, em particular os tectos barrocos revelados em caixotões de madeira policromada. Hoje não tenho dúvidas em afirmar que essa destruição constitui um dos golpes mais violentos vibrados nos últimos anos no acervo patrimonial da vila. Em nada se desemerece se a compararmos se a compararmos com a brutal demolição da casa do Patim, ou da dos Achiolis (ao Arrabalde), ou até do Hospital Velho da Misericórdia. E se estas desaparecem numa época menos que insensível à noção de património arquitectónico e à necessidade da sua conservação, aquela foi desfeita quando esta noção constituia já uma preocupação dominate de qualquer país civilizado (e Portugal era-o!). E, pior ainda, foi permitida a sua substituição por um edifício sem qualidade, concebido sem preocupação de escala e que alterou profundamente a hierarquia da estrutura urbana existente. Os valores admitidos dos indíces volumétricos e de ocupação do solo, conferem-lhe uma importância que o ultrapassa e forçam a uma situação de subalternidade os edifícios vizinhos, em particular a velha câmara e o pelourinho que perdem a promeninência, apesar da dimensão do espaço livre envolvente. Em 1970, perante a iminência da demolição, uma ilustre Senhora que, há 83 anos vinha assistindo à transfiguração constante da sua terra, escreveu, apreensiva, ao Director Geral dos Serviços de Urbanização, solicitando urgente intervenção. A resposta não se fez tardar. A 5 de Janeiro de 1971 a Direcção de Urbanização do Distrito de Viana do Castelo enviava o seguinte ofício (Ofº 19 - Proc.º U/7):

Exma. Senhora
D. Maria Rita Magalhães de Abreu Coutinho
Casa do Chafariz

PONTE DE LIMA


[...]

Relativamente à carta de V. Ex.ª dirigida ao Exmo. Engenheiro Director-Geral destes Serviços, informa-se que superiormente foi determinado esclarecer V. Ex.ª do seguinte:

-Reconstrução de um prédio particular-

Depois de termos obtido pareceres de técnicos sobre o interesse da casa a demolir, referida na carta de V. Ex.ª, verificou-se que a mesma não tem qualquer interesse arquitectónico, e que se encontra em mau estado, ameaçando ruína.
O novo edifício pode ser construído com uma cércea mais elevada, ou seja, três pisos, que se harmonize com os contíguos, e a sua arquitectura poderá enquadrar-se devidamente no ambiente do local.
[...]


Este ofício, que não se comenta, deve ficar registado neste local. Assim, fará também parte do património histórico de Ponte de Lima.
"

João gomes d´Abreu (engenheiro civil-urbanista)