domingo, 19 de outubro de 2008
Postal
domingo, 12 de outubro de 2008
Hotel da Guia (II)


Atempadamente foi disponibilizada na obra uma única imagem do futuro Hotel cuja construção está em curso a escassas dezenas de metros do conjunto patrimonial do Museu dos Terceiros e Teatro Diogo Bernardes. Actualmente já é possível termos uma leitura volumétrica do edifício e seu impacto na envolvente. Independentemente da questão sobre o imbróglio negocial que atribuiu a este terreno capacidade construtiva, procurarei tecer algumas impressões sobre o projecto com base no que nos é dado a conhecer até este momento.
O projecto está a cargo de Topos Atelier de Jean Pierre Porcher e Margarida Oliveira cuja obra tem forte presença em território limiano, sobretudo no Club de Golf de Ponte de Lima. É da sua autoria o loteamento deste empreendimento, o hotel, o clubhouse e diversas casas aí existentes. Considero a intervenção no Club de Golf notável pelo esforço impresso no sentido de integrar harmoniosamente um programa arquitectónico tão vasto com a paisagem. Esforço que tem sido reconhecido internacionalmente.
O Hotel da Guia segue a linguagem estética que este atelier tem vindo a desenvolver caracterizado pela acentuação de planos horizontais num contraste marcado de sombras. As formas pintadas de branco sob o sol adquirem um forte impacto visual mas que, assumindo essa contemporaneidade, também se adaptam bem ao casario branco da vila. O corpo dos quartos volta-se para nascente, com varandas com vistas para a vila e perpendicularmente à avenida dos Plátanos. Apesar do edifício se aproximar do arvoredo, tem a vantagem de não cortar visualmente a vista sobre este para quem circula na via de acesso à vila. Este corpo dos quartos tem a particularidade de se "soltar" da cota da estrada demonstrando a vontade dos autores em suavizar a volumetria através da autonomização aparente das várias partes. O piso da entrada (foyer) é desmaterializado através da utilização de amplas superfícies vidradas e que faz a mediação entre o embasamento (que julgo ser estacionamento e serviços de apoio ao hotel). O embasamento será o elemento mais sensível do projecto e provavelmente o menos bem conseguido. Ocupa a totalidade do lote e o seu impacto para quem passeia sobre a avenida é inevitável. No entanto, parece haver uma intenção de relacionar-se com o estacionamento da Guia de uma forma que o apelidado "comboio" não conseguiu. Sendo uma intervenção sensível e que se adivinhava polémica, julgo que os autores souberam lidar com as condicionantes e o resultado final poderá transparecer alguma eficácia. É uma resposta arquitectónica que não oferece novidade, mas sim muita competência nos métodos utilizados para tornar a intervenção o mais "leve" possível.