segunda-feira, 31 de março de 2008

Escarpa






Passados três anos da conclusão da A27 (Viana do Castelo-Ponte da Barca), o impacto desta grande "cicatriz" não foi minimizado. Causando fortes danos visuais na envolvente verde da vila, torna-se urgente traçar estratégias que suavizem esta escarpa.

quinta-feira, 27 de março de 2008

casa rural




Apenas recentemente reparei nesta antiga casa de lavoura no lugar de S.Gonçalo em Arcozelo ,bem perto do Festival de Jardins. É um belíssimo exemplar bem conservado no concelho de Ponte de Lima de uma arquitectura rural que nos últimos anos tem sofrido desvirtuações, ampliações ou reformulações, e que nem sempre souberam entender a sua tipologia original. Esta casa assume-se como uma construção de pedra formalmente concentrada num único corpo conferindo-lhe uma aparência monolítica. Tradicionalmente, o piso térreo seria dedicado à actividade agrícola (lagar, adega, corte de gado), sendo o primeiro piso inteiramente dedicado à habitação propriamente dita. De realçar a generosa varanda constituída por finas colunas de pedra olhando a vila.

domingo, 23 de março de 2008

Intervenção





A Igreja Paróquial de São Salvador de Figueiredo em Braga, recuperada e ampliada pelo arquitecto Paulo Providência, surge como um óptimo exemplo de como é possível valorizar o património sem desvirtuar o existente. Através do entendimento das premissas estruturais da construção existente, o novo corpo adossado insere-se equilibradamente nas linhas gerais da igreja assumindo claramente a sua contemporaneidade. Não pretendendo copiar "um modo de fazer à antiga" falseando inevitavelmente elementos originais, preserva a integridade da construção original. Cito um excerto da memória descritiva do projecto:


O projecto prevê a ampliação da Igreja de duas naves para três, repondo simetria. O programa da nova nave é acentuado por um absidíolo tronco-cónico que alberga a pia baptismal, e que se adiciona ao perfil do conjunto.

As novas coberturas das naves principal e colateral esquerda levam tectos de madeira abobadados, realizados através de cimbres que se cruzam com as asnas. O tecto da nova nave, realizado também em madeira, articula-se com as paredes em betão branco através de uma cornija em alabastro que permite manter uma ténue iluminação do interior. Pelo exterior mantém-se uma continuidade do betão branco e do alabastro.

O arranjo da envolvente, consolidando o adro de granito e integrando a escada, reforça as estruturas espaciais definidas pela fachada da igreja e pela casa e muro vizinhos.

fonte: Habitar Portugal 2003/2005
fotos: Fernando Guerra / FG+SG

Páscoa em Ponte de Lima

Sino




Esta capela na freguesia de S.João da Ribeira contém um pormenor curioso na forma como se resolveu a questão da inexistência de uma torre sineira. A ideia é interessante embora não tenha sida feliz na sua materialização. O pilar de betão pintado de branco com o dispensável mini-telhado desequilibra a fachada principal assumindo-se ruidosamente como mais um elemento compositivo. Julgo que a proposta deveria ter incidido numa atitude mais discreta, como um elemento claramente moderno, silencioso e sem analogias materiais à edificação original.

terça-feira, 18 de março de 2008

A nova muralha de Ponte de Lima


O Poder Limiano insiste que a vila está a crescer de forma equilibrada e agradável para além do perímetro do centro histórico comparativamente com outras cidades portuguesas. E neste ponto a autarquia tem razão. A realidade é que é praticamente impossível encontrar uma cidade portuguesa que seja referência como modelo de expansão do seu tecido urbano sendo por isso uma vitória desconsoladora. Obviamente o crescimento populacional da vila não proporcionou um descontrolo periférico de uma cidade como Braga ou Massamá mas se esse fosse o caso, pela política de planeamento que a autarquia está a praticar, não duvido que rapidamente tomaria este caminho. Como limiano orgulhoso, habituado à politica ambiciosa levada a cabo pela autarquia numa aposta continua pelo pioneirismo em várias áreas, não posso deixar de mostrar o meu desagrado pelo rumo que o planeamento urbano tem tomado. Não encontrando no país as referências necessárias, Ponte de Lima deveria olhar para o exemplo de algumas cidades europeias onde são promovidos concursos internacionais de urbanismo para novas expansões da cidade, tal como aconteceu com o plano de Valorização das Margens do Lima, e onde equipas pluridisciplinares de urbanistas, engenheiros, arquitectos, historiadores ou ecologistas unem as suas especialidades em prol de propostas criativas, coerentes e sustentáveis e que se relacionam com o planeamento económico, jurídico, ambiental, habitacional, da mobilidade e infraestruturas dessas cidades. Ao analisarmos as propostas vencedoras para essas cidades apercebemo-nos da forte aposta na valorização do espaço comunitário, valor que tem sido esquecido no país e em Ponte de Lima. O urbanismo em Portugal não tem uma verdadeira doutrina resultante de uma tradição ou do fruto de boas práticas. Não existe um espírito de cooperação na área ou um entendimento do significado da missão ou do serviço público que o urbanismo deveria servir. O que deveria ser um urbanismo de ideias fortes como motor dessa nova cidade, são apenas planos feitos por "desenhadores matemáticos" que apenas cumprem os mínimos que a legislação obriga: se a lei diz que a largura mínima do passeio deve ser 2,50m é assim que será desenhado. Temos um urbanismo onde uma figura tão essencial como o arquitecto paisagista não tem lugar. A nova vila não teve a mesma dedicação impressa no centro histórico na hierarquização de trânsito, espaços de lazer ou de leitura do espaço urbano. Esta situação agrava-se quando a maioria dos limianos estão a fixar-se nas zonas novas e portanto é aí que permanecem grande parte dos seus dias, sobretudo os mais jovens (zona das escolas, tribunal, via Foral D. Teresa). Hoje construímos áreas territoriais que anteriormente demorávamos séculos a construir, daí a responsabilidade acrescida. Se Ponte de Lima quiser afirmar-se como referência de "cidade" do futuro e ambientalmente sustentável, terá de focar-se em alguns aspectos dos quais falarei de seguida. É essencial um investimento no bom desenho urbano, não só da arquitectura dos edifícios em si mas também do espaço entre estes. Considero que neste ponto Ponte de Lima tem seguído o caminho da vulgaridade. Os perfis das ruas são desinteressantes com o alcatrão e betão a dominar. Os espaços verdes são apenas pequenos rectângulos sobrantes de relva e sem escala para poderem vocacionar-se como verdadeiros espaços de lazer. Seria preferível termos os edifícios mais concentrados e ocupando menos território, gerando uma dinâmica de rua, para no espaço sobrante localizarmos parques de apoio bem proporcionados. Estes parques funcionariam como espaços de transição entre as urbanizações e o Monte da Madalena, que corre o risco de ver os seus limites marcados por traseiras de habitações. Ponte de Lima, ao gerar ruas atractivas, estará a desenvolver a sua qualidade de vida e segurança. Arquitectura e urbanismo não são apenas estética; têm um papel social, moral e de dimensões políticas. Considero que o bom espaço urbano faz o bom cidadão. É verdade que o modelo urbano da periferia é diferente do centro histórico mas poderia oferecer uma forma diferente de viver a vila , mais ligada à natureza. Não temos nas novas urbanizações uma praça análoga ao Largo de Camões onde pudesse confluir alguns serviços essenciais e que fosse um pólo dinamizador de uma nova urbanidade. Temos uma nova zona urbana feita para o automóvel; ruas largas e alcatrão são um incentivo a um trânsito de velocidade e desencorajador de hábitos pedonais. Não planeamos uma rede de ciclovias onde a nova vila pudesse conciliar-se com a antiga numa interacção com o centro histórico, jardins e ecovia nas margens do lima e funcionando de forma autónoma do automóvel. A cidade do futuro é a cidade que proporciona e incentiva condições para o uso de transportes alternativos. A nova vila não tem parques qualificados. O único espaço verde surgiu apenas devido à apropriação por parte de crianças (tal era a necessidade dele) e que levou a autarquia a anular a sua capacidade construtiva. Refiro-me ao terreno contíguo à nova creche. Seria interessante criar uma rede linear de espaços verdes que trespassariam o centro histórico (aproveitando parques existentes como a Lapa ou Avenida António Feijó) e novas urbanizações da vila (através da criação de novos parques) num percurso que terminaria no parque do Monte da Madalena e começaria nos parques e jardins criados junto às margens do Lima num aproveitamento da sua dinâmica. Percurso este que se complementaria com a rede de ciclovias acima descritas. Considero que Ponte de Lima necessita de uma segunda muralha. Uma muralha virtual que trave a expansão de novas urbanizações e concentre esforços na revitalização e qualificação de espaços já existentes com duas ou três décadas e que dão sinais de degradação como a zona das escolas, bairros sociais adjacentes ao centro comercial Rio Lima ou a via Foral D. Teresa. Que essa muralha seja um "anel verde" que faça uma transição harmoniosa com o sistema ambiental que rodeia o espaço urbano. É importante que os parques não se concentrem apenas nas margens do rio mas lancem "braços" que abracem o Monte da Madalena e interpenetrem as novas urbanizações numa rede coerente de corredores verdes.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Muros rurais







Temos assistido à destruição de grande parte dos antigos sistemas de muros de alvenaria do território rural limiano. Estes antigos muros que delimitavam as propriedades agrícolas e conformavam estreitos caminhos de acesso, alguns deles com latadas de vinha sobrepostas, são uma importante marca caracterizadora do nosso espaço físico rural. E se isto acontece deve-se, entre outros, aos seguintes factores:
-a inexistência de um plano de protecção, tal como existe para a destruição de espigueiros e outros elementos ancestrais de arquitectura rural e de apoio agrícola;
-a pouca sensibilização dos proprietários e dos projectistas para esta questão ;
-a obrigatoriedade, sempre que se constrói uma habitação confrontante com vias em espaço rural, de recuar o muro de forma a garantir uma baía de estacionamento. Desta forma o antigo muro de alvenaria que faceava a estrada terá de ser destruído, sendo este normalmente redesenhado através de um sistema construtivo diferente do tradicional, com o betão ou tijolo rebocado adaptado às novas exigências. Parece-me inoportuna esta regra que obriga ao recuo do muro para estacionamento quando o espaço rural é tão generoso.
Através de pequenos "rasgos" pontuais nos muros de alvenaria originais para serventia automóvel poderíamos conservar estes sistemas murados sem graves prejuízos para a estética da nossa ruralidade.

quarta-feira, 12 de março de 2008

modernidade-antiguidade

recuperação-ampliação



Este prédio, na nova zona urbana da vila, optou pela não destruição de uma casa rural pré-existente o que à partida é de salutar. No entanto, este acto de boa-fé traz consigo atitudes contraditórias. A casa rural tem agora um "anexo" acoplado maior do que ela própria e que desvirtua a sua tipologia original. O "anexo" é um prédio de habitações em banda num pastiche de uma arquitectura típica do séc.XIX mas ainda assim sem analogias formais ou materiais com a casa rural.
Assistimos ainda a uma falta de cultura e sensibilidade de quem promove, de quem desenha e de quem aprova empreendimentos que, pensando estarem a cuidar e valorizar o património, confundem reconstruir com reconstituir. E quando reconstituem fazem-no falaciosamente através de uma forma de construir moderna mas cujo resultado final pretende passar como antiga, instalando a confusão entre o real e o postiço. Temos assim uma arquitectura portuguesa secular, que ao sofrer recuperações introduzindo novos elementos pseudo-antigos, falseando elementos originais, adulterando dimensões de vãos, adaptam esta arquitectura às condições de vida moderna da pior forma; apagando e desvirtuando pedaços do nosso património.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Uma ideia de cidade




Os arquitectos Camilo Rebocho Vaz, Marlene Santos e Bruno Oliveira distinguiram-se recentemente num concurso europeu abrangido por várias cidades europeias (Europan 9) e que pretende estimular o pensamento criativo de novas urbanidades. Obtiveram o 1ºprémio na cidade de Poïo, Pontevedra, Galiza. A proposta vencedora destaca-se pela forma como estabelece uma relação entre a "paisagem rural" e o conceito de utilização comunitária de "cultivos urbanos" onde se pretende estimular a criação de hortas na cidade como meio de subsistência. Toda a proposta se desenvolve no âmbito dos desafios ambientais actuais, onde a arquitectura assume um papel central nas questões de sustentabilidade e desenvolvimento futuro, com mecanismos próprios que permitem uma maior qualidade nos espaços de utilização pública e de habitar (fonte:revista arq./a março 2008).
Uma interessante abordagem que nos faz lembrar que é possível a não destruição e suspensão da actividade agrícola (tão necessária a um equilibrio ecológico das nossas cidades) em detrimento de urbanizações com vivências desinteressantes. Este projecto sonha o convívio entre as duas realidades. Uma ideia a reter.

www.europan-europe.com / www.europanportugal.pt

quarta-feira, 5 de março de 2008

Publico imobiliário



Hoje estreou o Público Imobiliário,uma série de 13 programas televisivos na RTPN em parceria com o Jornal Público. O genérico elaborado por Sofia Miranda e a Farol de Ideias conta com a participação de desenhos e projectos da minha autoria. Sendo alguns desenhos alusivos a Ponte de Lima, é oportuna a sua publicação neste espaço.

terça-feira, 4 de março de 2008

4 de Março - Dia de Ponte de Lima

caos urbanístico em Portugal


O Portal de Urbanismo permite o acesso à Exposição Virtual 30 anos de Caos Urbanístico. Apesar de ser um trabalho de 2002, o problema continua actual. A exposição dá a conhecer alguns dos mais dramáticos atentados urbanos que proliferaram pelas nossas cidades. Uma apresentação que consciencializa para os erros e permite compreender que é mais por falta de cultura do que por falta de dinheiro, que vemos comprometido o território em que muitos vão viver, crescer e construir as suas vidas.

domingo, 2 de março de 2008

Os Passos da Glória


Numa das minhas visitas a uma livraria Bertrand do Porto, a capa de um livro chamado Os Passos da Glória focou a minha atenção por reconhecer nela uma foto do Mosteiro de Refóios do Lima. Folheei o livro para tentar perceber a ligação a Ponte de Lima. É um relato ficcionado de um escultor português de fins do século XIX que se aventurou por cidades europeias como Paris onde conheceu pintores como Rodin. Alguém que se movimentou pelas classes altas da sociedade portuguesa e literária onde conheceu Eça de Queirós mas manteve também ligações com a aristocracia limiana. O romance é escrito pelo arquitecto Manuel de Queiroz. Deixo a descrição da editora:

"Romance biográfico ou biografia ficcionada de Aleixo Queiroz Ribeiro, um escultor português com um percurso de vida extremamente aventuroso. Centrado nesta figura culta e cosmopolita, a narrativa visita momentos cruciais da sua vida e obra: a sua estadia em Paris, em fins do século XIX, durante os anos de formação em que estudou escultura na cidade da luz, e onde conheceu e privou com grandes nomes da arte escultórica, como Rodin e Saint-Gaudens, da literatura, como Eça de Queiroz, e outros de igual vulto; e o seu casamento com uma das mulheres mais interessantes e ricas da América, a viúva Stetson. Estes dois momentos fundamentais, visitados em detalhe e intercalados com outros de transição, estruturam toda a obra, explorando e dramatizando um dos seus principais aspectos: a personalidade dual da sua personagem principal. Recria-se ainda e de uma forma muito interessante a relação dialógica que Aleixo Q. Ribeiro mantinha com as «referências» culturais, então vivas, portuguesas e estrangeiras."

fonte: http://www.bertrand.pt/