quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O areal de Ponte de Lima



A futura intervenção no areal de Ponte de Lima tem sofrido recuos na vontade ou coragem política para a sua realização.

Este é um espaço singular e paradigmático no contexto urbano das cidades portuguesas na medida em que não é um rio "murado". Ponte de Lima é uma vila interior que tem um extenso areal fluvial com um carácter sazonal; sempre disponível para acolher uma cheia mais imprevista que a planura das margens não perdoam. Este facto tem condicionado uma intervenção mais ambiciosa neste espaço uma vez que a proposta terá de contemplar elementos de grande resistência e solidez às águas.
A realidade é que cada vez mais são raros os dias anuais em que o leito do rio se aproxima do paredão. O areal foi perdendo ao longo dos últimos 20 anos o seu carácter natural. Era um espaço que mediava com o espaço construído da vila num convívio perfeito entre a obra do homem e a obra da natureza. O próprio rio se encarregava de moldar as suas dunas. O povo gozava de um espaço único em pleno centro da vila onde a natureza se manifestava no seu estado mais puro ao ponto de ser vulgar animais como porcos ou ovelhas pastarem. O estado imaculado era apenas pontuado pelos desaparecidos estendais onde lençóis gozavam dos ventos norte que só um espaço despojado como o areal poderia oferecer. Era o espaço de banhos e lazer por excelência que qualquer cidade do interior gostaria de ter.
O areal assume-se como palco tradicional e essencial a eventos como as Feiras Novas, a Vaca-das-Cordas ou as feiras quinzenais. É um espaço que tem uma enorme capacidade para ser usado de várias formas sem que contenha em si algum tipo de atributo especial. No entanto a sua vocação como o grande estacionamento da vila por excelência tem sido acentuada e até defendida por muitos. Desta forma a areia foi sendo substituída por terra batida mais apta à função automóvel. Terra esta que nos meses quentes de Verão brinda com uma nuvem de pó os turistas que tenham a infelicidade de transitar no Passeio 25 de Abril sempre que um condutor tenta mostrar os seus dotes automobilísticos. Grandes rochas a travarem o avanço dos automóveis sobre o rio, carros estacionados sob os arcos da ponte medieval, linhas de árvores que pretendem criar alamedas paralelas às existentes (caso da Alameda de S. João) num claro esquecimento da essência original do areal e do seu enquadramento em toda a linha de paredão da vila. Tem havido uma necessidade de atribuir novas funções a um imenso areal quando a sua única função talvez se deva resumir à simples condição de existir. Todas estas intervenções terão sido feitas com boas intenções no sentido de dotar o areal com elementos que no futuro pudéssemos tirar partido como áreas de lazer. São soluções de compromisso que foram sendo tomadas enquanto o grande plano de organização do areal não gera consenso. Porém, é um tema que se foi acomodando depois de se ter abandonado o polémico projecto que visava construir um canal na frente ribeirinha; uma proposta desapaixonada e demasiado "construída" que quebrava com o gesto natural provocado pelo rio. A proposta de intervenção no areal é muito sensível e geradora de posições extremas por parte da população mas que se torna urgente num momento em que a ponte medieval começa a dar sinais visíveis de degradação e saturação consequentes do estacionamento abusivo.
Este imenso areal deve ser reforçado como tal e as intervenções no local não devem assumir-se como decoração paisagística. O areal deve continuar a ser eminentemente um areal. Pensar o areal como um espaço verde e ajardinado será como imaginar o Terreiro do Paço em Lisboa com hortas agrícolas num espaço que se quer como praça urbana. Mais do que marcar o lugar será mais oportuno saber interpretá-lo. A futura intervenção no areal deve caracterizar-se essencialmente por pequenos elementos visualmente silenciosos que permitam uma estabilização do pavimento para a organização saudável da feira e do espaço de estacionamento a existir. Um percurso pedonal poderá permitir um passeio mais próximo do rio e fixar a transição do areal no seu estado natural mais próximo do leito do rio com o espaço tratado da feira e estacionamento. No entanto toda a intervenção deve contemplar materiais análogos ao areal e obviamente preparados para um possível avanço das águas. Imagino que o segredo da proposta residirá no intervir parcamente e numa "limpeza" de todas as intervenções que se realizaram e que são estranhas à condição de areal. Julgo que com pouco se possa fazer muito. Os limianos não poderão perder a oportunidade de recuperar este fantástico elemento natural e tão identificativo de Ponte de Lima para se construir mais um jardim que em nada o distinguirá dos outros.
Em relação ao estacionamento no areal, a intervenção poderá contemplar a possibilidade de uma bolsa de estacionamento de lugares limitados e devidamente afastada de elementos como o rio e a ponte medieval para salvaguardar a sua protecção e enquadramento paisagístico.
O areal atinge o pico de estacionamento em meses de verão e fins-de-semana devido à afluência de turistas. Na generalidade esses mesmos turistas vêm cativados pela beleza da vila, pela gastronomia e são de provenientes de cidades onde o problema de estacionamento é bastante mais grave dentro do núcleo histórico durante os dias de trabalho semanais. Questiono-me se será desencorajador para este perfil de turista o estacionar durante um dia o seu automóvel no estacionamento da Guia ou no estacionamento de S. João e fazer o agradável percurso pelas alamedas presenteando-os com uma ponte medieval liberta de auto-caravanas em primeiro plano e um areal que encoraja a relação saudável com o rio.
publicado no Jornal Alto Minho 17/11/08

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A ruína dos Barbosa Aranha




A casa torreada dos Barbosa Aranha, edifício do século XVII e de forte presença na morfologia do centro histórico, encontra-se em avançado estado de ruína. Aqui ficam registadas algumas imagens...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Quarteirão

Interessante quarteirão no término da Rua da Fonte da Vila onde antigas casas modestas (possivelmente antigos caseiros) acoplam-se a um palacete que o remata com uma torre/miradouro num sentido piramidal.

Protocolo com a Universidade Católica


É uma boa notícia a assinatura de um protocolo entre a Câmara Municipal de Ponte de Lima e o curso de arquitectura da Universidade Católica. A vila , como objecto de reflexão por parte de alunos e apoiados por docentes de um curso de arquitectura será enriquecida com visões mais ou menos académicas ou desapaixonadas mas que poderão encerrar em si soluções interessantes para um urbanismo instalado e que está carregado de vícios e incongruências. Esperamos assim por propostas que consigam "coser" as várias zonas da vila de uma forma coerente e devidamente fundamentada.