terça-feira, 29 de abril de 2008
Reparo - Cemitério
Quando escrevi o artigo chamado "a dessacralização do cemitério" chamaram-me a atenção para um pormenor que por descuido não mencionei. O muro do cemitério, onde hoje está desenhada uma linha amarela de proibição de estacionamento, era pontuada por cruzeiros provenientes do calvário demolido entre o Largo da Lapa e o início da Rua do Pinheiro. Aqui fica questão da mesma forma que me foi formulada: "Onde param os cruzeiros do cemitério?"
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Integração
Muito se tem discutido sobre a inserção equilibrada de novas arquitecturas em tecidos urbanos consolidados. É um dos temas mais caros à arquitectura. Uns optam pela integração pela aposta na diferença, assumindo claramente essa modernidade (é o caso do posto de Turismo ou do Mercado Municipal em Ponte de Lima); outros apostam pela integração através de uma leitura cuidada dos vários elementos comuns que se repetem uniformemente pelo espaço urbano. É o caso desta intervenção em Lisboa entre a Baixa e o Chiado do arquitecto Álvaro Siza Vieira. O vazio existente no local foi "preenchido" com uma solução que dialoga com o ambiente arquitectónico envolvente de forma silenciosa mas que em simultâneo não deixa de explorar uma certa contemporaneidade. Estas foram as raízes geradoras do projecto.
terça-feira, 22 de abril de 2008
Teatro
Através do blog "Parar para Pensar" tomei conhecimento da vontade do município em adquirir o edifício da Santa Casa da Misericórdia em frente ao teatro Diogo Bernardes com o objectivo de criar uma praça em frente ao mesmo. Tradicionalmente os teatros municipais eram construídos dentro do tecido urbano, conformados por uma praça ou então eram a oportunidade de enobrecer um determinado local. Não foi o caso do nosso teatro. O terreno gentilmente cedido por João Rodrigues de Morais para a sua construção situava-se já na época nos limites do centro histórico e com uma entrada excessivamente próxima do trânsito. Parece-me uma excelente ideia o alargamento da plataforma pedonal defronte do teatro criando mais conforto e uma entrada mais atractiva de forma a resolver um problema de raiz na implantação deste edifício. Apenas guardo algumas reservas em relação ao destino do edifício que se situa em frente ao teatro e a sua fachada de grandes portões em forma de arco e que me parece ter algum interesse.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Recuperação em Brandara - Ponte de Lima
Excerto da memória descritiva:
"A habitação, presentemente em estado de ruína, situa-se numa freguesia eminentemente
rural do concelho de Ponte de Lima. Nos últimos anos, a construção de um aterro consequente de um túnel de uma auto-estrada reduziu o terreno envolvente à ruína.
O programa proposto refere-se à recuperação da ruína dedicando-a ao turismo rural.
Não oferecendo a habitação muitos dados em relação aos seus elementos originais, devido ao elevado estado de degradação, o estudo da arquitectura vernácula da região levou-nos a sintetizar determinadas características comuns. As casas rurais do Alto Minho respondiam às necessidades dos agricultores com o piso térreo a servir de adega, espaço para o lagar, gado ou armazenamento das alfaias agrícolas. No piso superior situavam-se as dependências habitáveis como a sala, cozinha e quartos. Em alguns casos , o piso superior albergava também um espaço ventilado de armazenamento de milho. Isto acontecia através de uma fachada com um sistema ripado em madeira semelhante aos espigueiros. Esta situação acontecia originalmente nesta habitação em estudo. Infelizmente são raros os casos que chegaram aos nossos dias devido à sua fragilidade construtiva.
As necessidades actuais são outras assim como as exigências de conforto.
Optamos por direccionar a intervenção no sentido de recuperar toda a estrutura em pedra tal como ela chegou aos nossos dias e reconstituir a volumetria do edifício com a sua varanda e marquise originais assim como a reposição dos pilares de pedra que a sustentam. Evocamos assim as características tradicionais do edifício não nos comprometendo com a história. Na impossibilidade de recuperar todos as características originais, a intervenção terá pontualmente soluções construtivas mais contemporâneas mas que se relacionem harmoniosamente com o conjunto global. Desta forma assumimos a modernidade sem cairmos no erro de reconstituir os elementos falaciosamente. De uma forma geral o projecto privilegiará os materiais de construção tradicionais como a pedra a madeira e o ferro.
O acesso à casa poderá ser efectuado através de dois pontos. O primeiro, pela entrada original e o segundo pelo estacionamento a ser criado a norte da casa. Este último sugerirá um percurso através do alpendre que se abre para os lados norte e sul. Ambos os percursos levarão ao piso térreo da casa onde se localizará uma pequena recepção ao turista.
No piso térreo, para responder a um programa flexível e simultaneamente resolver o problema da escassez de área e de luminosidade, considerou-se relevante evidenciar, segundo novos propostos e novas soluções formais, a simplicidade das soluções espaciais, a fácil leitura das funções e interligação das áreas. Apesar deste espaço ser iluminado pelas aberturas originais como as duas portas existentes, achamos não ser suficiente para o espaço da cozinha. Desta forma, este espaço será ainda servido por uma clarabóia e uma janela do piso superior.
Este espaço único alberga também as comunicações verticais e a sala de jantar. No piso superior, três quartos e um escritório convertível noutro quarto são servidos por uma galeria/varanda com portadas duplas em ripas de madeira evocando a fachada original. Esta varanda tem acesso ao pátio exterior virado a sul através das escadas de pedra existentes.
A área no interior da ruína é escasso para o programa exigido. Optamos por anexar a sala de estar a um volume novo. Uma espécie de plataforma solo que compreende também a piscina e os balneários de apoio. É um volume com pouca presença acima do solo de forma a não perturbar a volumetria geral do volume antigo."
André Rocha
sábado, 12 de abril de 2008
blog
Achei curioso o facto de um blog de nacionalidade espanhola dedicado à arquitectura e fotografia tenha utilizado o edifício do novo posto de turismo do arquitecto João Álvaro Rocha como layout da página.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
que futuro?
O edifício da Transformadora Industrial do Norte (preparação de minérios), há vários anos ao abandono, espera por uma revitalização que dignifique a sua história. O imóvel, pela sua qualidade arquitectónica, localização privilegiada no lindíssimo Largo da Freiria e jardim anexo carregado de potencialidades, assume-se como uma oportunidade dinamizadora que a vila de Arcozelo não deverá subestimar.
terça-feira, 8 de abril de 2008
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Arquitectura Popular
moradia contemporânea com elementos tradicionais de uma arquitectura classizante
As edições de "A Arquitectura Popular em Portugal", iniciativa do então Sindicato Nacional de Arquitectos, dividem-se tematicamente pelas várias províncias do país. Equipas de arquitectos se organizaram-se para uma inventariação e estudo do património nos anos 50. Esta obra apresenta-se cada vez mais como uma obra ímpar de valor inestimável a uma boa preservação e valorização do património arquitectónico de cariz mais rural, popular. Depois de uma deturpação daquilo que se julgava ser uma arquitectura tradicional, divulgada nos primeiros anos do Estado Novo e sobretudo através dos manifestos do arquitecto Raul Lino como resistência à entrada no país dos ideais modernos já consolidados pela Europa.
O volume que diz respeito ao estudo do Minho e Douro Litoral é coordenado pelo arquitecto Fernando Távora. A ideia era procurar as verdadeiras raízes de uma arquitectura popular tipicamente portuguesa para a construção de uma arquitectura moderna fundamentada nos seus elementos mais ancestrais.
Este inventário é tão mais importante quando foi realizado imediatamente antes das grandes transformações que se processaram no território no pós-25 de Abril. Os registos fotográficos e a análise das várias tipologias são essenciais para uma recuperação cuidada.
Um conjunto de fenómenos onde se contava também um desejo de apagar da memória todas as marcas de pobreza e atraso fez com que no espaço de 20 anos grande parte dessa arquitectura profundamente enraizada no nosso mundo rural fosse derrubada. Sobretudo na década de oitenta e noventa do século passado, diversas casas rurais foram restauradas com ampliações no sentido de as prepararem às condições de conforto e higiene dos tempos modernos. A antiga casa de pedra era constituída por uma ou duas salas que serviam simultaneamente de sala/cozinha/quarto. Foi uso corrente a ampliação destas casas com um novo segundo piso que derrubava com as características tipológicas da original. Outro fenómeno foi o da chamada "casa de emigrante" onde projectos descontextualizados e incoerentes com a nossa arquitectura implantam-se no espaço rural. No entanto, estas chamadas "casas de emigrante" são de certo modo menos gravosas para o património porque são normalmente construídas de raiz em terreno próprio não destruindo normalmente as velhas casas da aldeia. Assistimos também a situações em que estas habitações rurais mantiverem alguns dos seus traços originais mas foram alvo de ampliações imitando com pequenos tiques o corpo original da casa e instalando a confusão entre o real e o postiço. Janelas e portas alargadas para poder albergar mais um carro são alguns dos exemplos.
Nos anos 90 até a actualidade assistimos a um outro fenómeno onde construímos habitações que nos remetem para as antigas casas solarengas dos séculos XVIII e XIX. São moradias com um desenho baseado em elementos caricaturados dos antigos solares: a varanda colunada, as cantarias nas janelas, os pináculos nas esquinas do telhado, a torre e a escadaria de entrada. Porém , escondem na sua construção as mais modernas tecnologias com a predominância do betão e tijolo. O seu interior satisfaz as exigências de conforto da vida contemporânea com todos os luxos inerentes. Utilizando uma metáfora de gosto automobilístico podemos assumir que os proprietários pretendem um Chevrolet de 1937 com motor Ferrari de 2007, ar condicionado e airbag.