quinta-feira, 19 de março de 2009




Certos elementos naturais elevam-se quase ao estatuto de património quando estes começam a figurar de forma tão marcante na memória visual do espectador. É o caso desta palmeira (não sei se será esta a verdadeira designação cientifica deste exemplar) existente na recém restaurada Casa do Arnado. Um dos postais de Ponte de Lima é pontuado inevitavelmente por esta árvore de porte elegante e altivo. Embora tenhamos tendência a valorizar a imagética do património construído, julgo que o desaparecimento desta "coluna vegetal" seria já uma perda digna de referência.

quarta-feira, 18 de março de 2009

A vila mais antiga

foto: José Marinho c.1925


A suspeição da imprensa regional e nacional sobre a legitimidade da afirmação da posse do título de vila mais antiga de Portugal por parte do município de Ponte de Lima tem ganho repercussões graves. Os contornos desta afirmação nunca me foram claros, no entanto assumi que Ponte de Lima seria a vila mais antiga não histórico-cronologicamente mas sim porque as verdadeiras vilas detentoras do título elevaram-se a cidade ganhando automaticamente Ponte de Lima essa categoria. O desinteresse da autarquia na elevação de Ponte de Lima a cidade seria em parte uma estratégia no sentido de não deixar escapar esse título.


Quando os historiadores não chegam a conclusões claras é normal os casos mais prováveis apressarem-se a reclamar o título. Faz lembrar as várias teorias sobre o nascimento de personalidades históricas como Gil Vicente. Na sua probabilidade, cidades como Guimarães adiantam-se a dar o seu nome a uma escola e Barcelos a um clube de Futebol quando provavelmente Gil Vicente não nasceu no Minho mas nas Beiras. O mesmo acontece com Cristovão Colombo sobre a sua nacionalidade portuguesa ,castelhana ou até italiana. Daí terem proliferado as supostas casas-museu em várias localidades.


No caso de Ponte de Lima o assunto parece ser historicamente bem fundamentado visto o município de Soure ter recebido foral em 1111 pelo Conde D.Henrique (14 anos antes de Ponte de Lima) e com a agravante de ainda ser uma vila. É curioso esta vila de Soure não ter reclamado este título quando esta afirmação tornou-se um sobrenome de Ponte de Lima nos últimos anos.
Esperemos então pela reposição da verdade.

A moda das autarquias do país quererem assumir a sua identidade com algum titulo como "a capital de algo" generalizou-se nos últimos 15 anos. Santarém-Capital do Gótico, Braga-Cidade Barroca, Coimbra-Capital do Conhecimento, Ponte de Lima-A vila mais Antiga.
É verdade que Ponte de Lima não necessitava de cultivar esta falácia ao ponto de acreditarmos nela própria. É embaraçoso para os habitantes e Ponte de Lima tem apostado noutros temas que fariam mais sentido como referência nacional como a aposta na ecologia. Esperemos então que a autarquia não caia no provincianismo de mudar a placa da auto-estrada A3 de "Ponte de Lima- a vila mais antiga" para "Ponte de Lima - A Capital do Arroz de Sarrabulho".

segunda-feira, 2 de março de 2009

Arquitectura desaparecida em Ponte de Lima (III)

Ponte de Lima em 1858

Dia de cheia em 1947

actualmente



O conjunto de 3 prédios demolidos para dar lugar ao edifício da actual Caixa Geral de Depósitos apresentavam-se ligeiramente mais recuados em relação ao Passeio 25 de Abril e Torre de S.Paulo. Isto permitia uma melhor visualização desta torre medieval a partir do Largo de Camões. O conjunto era constituído por um edifício de lote estreito que relacionava-se com ao Largo de Camões e Rua do Postigo. Era um prédio de duas assoalhadas mais o habitual piso recuado construído com materiais mais leves. O seu desenho segue a traça dominante do resto do casario do séc.XIX de janelas de abas e caixilharia em guilhotina. Voltados ao rio dois prédios contribuíam para o desenho da frente ribeirinha da vila. Apesar de conterem o mesma traça arquitectónica com as janelas de cantaria similar e ornamentos de losangos duplos (um desenho pouco comum no resto do casario da época), julgo serem dois prédios distintos por duas razões. Na fotografia da vila em 1858 apenas existe a ala direita do prédio que confronta a Torre de S.Paulo e sem um piso adicionado posteriormente. A outra razão prende-se com o desnível existente entre os dois prédios assumindo a diferença. Ambos continham pouca profundidade. Estavam implantados exactamente sobre a linha da muralha substituindo os cerca de 3,50m desocupados por esta. A fotografia de 1858, apesar de não proporcionar uma leitura muito rigorosa, parece apresentar um convívio da fachada deste prédio com o troço da muralha correspondente à demolida Porta do Postigo e o seu nicho superior. A fachada era complanar à muralha e talvez existisse um acesso desta à muralha através do andar superior (podemos deduzir que a demolição do Arco da Porta do Postigo, tal como o da Porta Nova ainda não era prevista pelas entidades camarárias visto que este prédio foi desenhado incluindo este troço da muralha como condicionante do projecto). Até à sua demolição este conjunto sofreu sucessivas adições de pisos e águas furtadas. Os 3 prédios deram origem ao edifício da Caixa Geral de Depósitos que está inserido num programa nacional que visava cobrir o território com este equipamento por parte do governo do Estado Novo. Eram equipamentos construídos maioritariamente nas praças principais das cidades sob o estilo arquitectónico vulgarmente denominado "Português Suave". Não sendo o edifício da Caixa Geral de Depósitos de Ponte de Lima uma referência marcante deste estilo, esta arquitectura procurava recuperar elementos de uma arquitectura dita tradicional como pilaretes, desenhos de vãos, cantarias e adicionando elementos de revivalismo nacionalista como esferas armilares (presentes nas varandas da CGD), brasões ou caravelas. Era uma arquitectura utilizada em plena era moderna e que por vezes produzia resultados contraditórios no projecto de equipamentos com programas arquitectónicos novos. O edifício da CGD de Ponte de Lima é assim um edifício sólido, algo austero na sua escala e volumetria monolítica em relação ao restante casario e que, ao contrário do anterior conjunto de prédios, não retirava um certo protagonismo à Torre de S. Paulo. Na década de 80 do século passado, o redimensionamento das janelas do piso superior suavizou a sua escala. Porém, este edifício integra-se razoavelmente no ambiente construído do Largo de Camões.


Bibliografia: planta: Ontem-Hoje, O Largo de Camões, 1983 p.316
Ponte de Lima, Uma Vila Histórica no Minho, p.237
Arquivo Família Vieira Lisboa_Casa da Freiria (foto de 1947)