quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Neptuno


Concordo com o estacionamento público criado em S.João inserido no conjunto do Mercado do Gado e dando continuidade a uma correcta politica de localização de parqueamento nos limites do centro histórico.
O
muro que delimitava a rua que interligava a rua do Arrabalde à capela de S.João desapareceu. Por serem construções frágeis, o sistemas murados são ainda hoje subestimados como património a valorizar. No entanto é um elemento tão presente e dominador na paisagem urbana e rural do Minho. Como delimitador de um eixo, o muro contém o mesmo poder de reforçar um eixo do que um conjunto de edifícios construídos sobre esse mesmo eixo. A fonte de Neptuno constitui por si só um valor patrimonial e artístico inegável, porém esta não pode ser lida isoladamente. A fonte estava enquadrada por este percurso conformado por dois altos muros sem atravessamentos laterais e que conferiam elevada carga visual à fonte como remate cénico.
Para além deste motivo, julgo que este percurso continha um valor histórico que foi descurado. É por aqui que se inicia a tradicional corrida da Vaca-das-Cordas em direcção ao centro da vila, e onde os mais corajosos corriam ininterruptamente entre muros até dispersarem na capela de S. João.
Obviamente estes aspectos não foram salvaguardados pela autarquia aquando o acompanhamento do projecto. Esta questão seria facilmente resolúvel se o muro fosse reconstruído ou reconstituído rasgando acessos pontuais, e desta forma não desfazendo por completo este percurso consolidado.

Situação original



Situação actual


sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Arnado


Situação actual

Considero o Campo do Arnado um dos exemplos a seguir em termos de parque público de lazer. Depois da explosão de jardins "acanteirados" convidando a uma visita demorada, com percursos controlados e de grande riqueza florícola, este espaço verde prova que não é preciso muito desenho para facilmente obter a adesão do público. É apenas um amplo espaço relvado ladeado por árvores que dão sombra a mesas de pedra. A forma como é utilizado depende sempre da criatividade do cidadão: futebol, jogging, piquenique ou simplesmente apanhar sol são apenas algumas das actividades possíveis em espaços desta natureza. Foi com espanto que vi surgir há poucos anos um caminho cimentado de acesso ao bar e que veio substituir o caminho natural do terreno criado pelo uso. Sendo um percurso pedonal não entendo a escala automóvel, para além de rasgar excessivamente o espaço verde. O ideal seria o percurso processar-se lateralmente no paredão e a entrada na esplanada do bar ser virada ao rio (este percurso foi construído apenas para um acesso confortável ao bar). Desta forma o espaço seria relvado na sua totalidade. A existir julgo que este acesso deveria ter uma largura mais humana e fundir-se equilibradamente no verde.


Solução favorável

A dessacralização do cemitério


O cemitério de Ponte de Lima foi inaugurado em 1879 depois de uma longa campanha que visava a consciencialização da sociedade para o enterro dos falecidos fora da malha urbana. Normalmente a população era sepultada nas igrejas ou no espaço exterior a estas. Uma visão mais higienista do séc.XIX aliada à extinção das ordens religiosas e nacionalização dos respectivos bens. Depois de muita resistência por parte da população este “campo sagrado” foi construído numa pequena colina situado nos terrenos do extinto Convento dos Frades de Santo António.

O local do repouso eterno está assim numa plataforma elevada isolado por densa vegetação. Acessamos através de um curioso caminho ladeado por muros enegrecidos pontuados por cruzeiros que serpenteiam a encosta e que conferem uma elevada carga poética ao percurso de aproximação. Na chegada, uma pequena praça conformada pelo muro do cemitério e dois pequenos edifícios simétricos acrescenta um valor cívico onde as pessoas se encontram para fazerem uma reflexão da morte contemplando ao fundo a vila e a paisagem que a envolve.

Parte desta descrição já não faz sentido no presente dia. Quando julgávamos que aquele local era “sagradamente” intocável, vimo-lo a ser descaracterizado na última década. Primeiro com o licenciamento de moradias que se implantam na encosta e que têm como serventia o antigo acesso ao cemitério. O “anel verde” que rodeava o cemitério vai sendo assim gradualmente quebrado. A situação agrava-se quando se rompe parte do acesso para o interligar com uma nova superfície comercial, alargando, alcatroando e portanto, quebrando a força que este percurso tinha na aproximação ao cemitério.

Penso que a integridade desta encosta do cemitério deveria ter sido minimamente preservada pelo seu valor histórico, patrimonial e paisagístico. Deveria ter sido encarada como espaço abrangido ainda pelo centro histórico e que consolidaria uma das entradas da vila protegendo-a do impacto das vistas cada vez mais indesejadas. Assistimos ao crescente convívio de moradias com outros tipos de infra-estruturas e nem sempre de forma bem sucedida. É preferível hierarquizar as funções dentro de um mesmo espaço urbano para que este seja facilmente apreendido pela população ou seja, de fácil leitura na estrutura urbana. Neste caso o que estava sedimentado na memória dos limianos como a “colina do cemitério” deixou de o ser.

As obras estão no local para continuar. Esperemos agora que o tempo dê razão ao argumento de utilidade pública a que se propôs. Já assistimos a várias intervenções promovidas ou patrocinadas pela autarquia que, sob este argumento de necessidade pública, lotearam e sacrificaram a área circundante à Avenida dos Plátanos e que com esta distância temporal ainda não conseguimos aperceber-nos da mais-valia resultante para os limianos.

Publicado no Jornal Alto Minho 24-01-2008

domingo, 20 de janeiro de 2008

Ponte


No fim da década de 80 a DGEMN (Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais) patrocinou a reposição do pavimento original na ponte medieval assim como o seu encerramento ao trânsito automóvel. Julgo que o pavimento original teria uma estrutura bem diferente do colocado. As sarjetas de escoamento de águas pluviais não seriam certamente semelhantes às modernas grelhas de ferro colocadas. Marcando o fim da obra e a autoria para a posteridade, a DGEMN rasgou um negativo na guarda da entrada da ponte para aí cravar uma placa comemorativa. Atitude contraditória com a missão de preservação integral do património; missão desta instituição.

Janelas


Esperemos que este tipo de sombreamento com persianas desapareça gradualmente e que as caixilharias de madeira tradicionais possam ser uma constante no centro histórico.

Onde o progresso tarda..

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Muralha


Situação actual

Troço da muralha medieval, imóvel de interesse público desde 1945, servindo de suporte a um sinal de trânsito. Apesar do sinal estar localizado na parte reconstituída aquando as obras de transformação da Biblioteca Municipal, não invalida uma certa falta de sensibilidade.
Apresento uma proposta que me parece mais favorável.

Solução favorável


segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Cemitério I



Este é o resultado das novas intervenções no velho caminho de acesso ao cemitério. O portão de uma das quintas da encosta e muro de granito enegrecido pelo tempo com um infeliz enquadramento constituído por um "pseudo-passeio" de mosaico de betão. Torna-se urgente reflectir sobre o convívio de novos materiais com os mais antigos.

Brevemente dedicar-me-ei a esta área circundante do cemitério da vila de uma forma mais abrangente.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Duas realidades


Ponte de Lima tem um centro histórico agradável e atraente transmitindo uma sensação de bem estar a quem ele percorre, fruto de um programa continuado de reabilitação que deu resultados bastante positivos. No entanto, como na generalidade das cidades portuguesas, o centro histórico tem sido encarado como um objecto uno, ou seja, um grande monumento a proteger, independente de toda a nova evolução urbana. Desta ideia de centro histórico como monumento no seu todo (que por si só é um exemplo de planeamento urbano que funciona e é facilmente apropriado e reconhecido pelos cidadãos) surge além deste limite de salvaguarda um crescimento desordenado, incaracterístico. Criam-se novas centralidades de serviços onde domina a ausência de urbanidade, identidade e até sustentabilidade. A nova vila não é pensada a longo prazo como a oportunidade de reconversão modernizadora. Se no pós-25 de Abril as cidades portuguesas explodiram desenfreadamente para além dos perímetros históricos ao sabor dos interesses especulativos, seria de esperar que Ponte de Lima, que está a viver neste momento o seu pico de construção, não cometesse alguns dos mesmos erros de um modelo urbano que não resultou. Planos existem mas são somatórios de loteamentos traçados a régua e esquadro num processo matemático sem real fundamento transmitindo uma falsa sensação de ordem. Faz-se espaço público e não espaço para o público.

A periferia de Ponte de Lima cresce assim apenas para servir o centro histórico, não tirando partido dele. Não existe uma transição harmoniosa entre as duas realidades. As continuidades que existiam nos arrabaldes esbateram-se. A periferia não contém qualquer evocação ao sistema urbano antigo, nem mesmo nos materiais utilizados nos novos prédios. O tijolo burro vermelho utilizado nas novas urbanizações é mais característico da zona centro e sul do país. A obrigação de cobertura de telha num prédio de habitação colectiva é algo contraditório com este programa arquitectónico que se desenvolveu já sob os fundamentos do Movimento Moderno da arquitectura; basta ver como os projectistas tentam esconder este problema aumentando as platibandas.

A autarquia nega os erros dizendo que até constrói ruas largas para maior conforto. O resultado são ruas fora de escala, que apenas encoraja o trânsito automóvel e não os peões. Não se constroem corredores pedonais que partem do centro histórico com a circulação automóvel a processar-se independentemente. Assistimos a uma ocupação do território que seria possível em metade dele. Os vazios resultantes são enormes. A concentração geraria qualidade urbana.

Na realidade as bases para a construção da nova vila já existem desde os anos 30 do séc. XX com a construção do eixo da Avenida António Feijó que parte do centro histórico lançando perpendicularmente ramificações que seriam o mote para novos arruamentos urbanos de expansão urbana. Este plano foi sendo comprometido com a construção das várias rotundas no topo da avenida que retiraram o a possibilidade de qualquer consolidação urbana. Basta percorrer a via Ribeira-Feitosa para nos apercebermos do desnorte de planeamento; a ausência de alinhamentos, a convivência de vários tipos de loteamento, de cheios e vazios, de várias vontades de décadas diferentes. Uma via que já merecia um carácter mais urbano que lhe retirasse a excessiva primazia aos automóveis.

O Município de Ponte de Lima quer ser referência a vários níveis como tem sido na recuperação patrimonial, criação de jardins, ecologia. Deveria ter sido também na criação de um modelo urbano que fizesse a transição da cidade nova com a antiga de forma harmoniosa e com qualidade arquitectónica. Seria o maior ensinamento a qualquer autarquia do país. A arquitectura dos novos prédios de habitação é na generalidade muito fraca por isso era necessário experimentar um modelo urbano com a qualidade e criatividade suficiente para eles se implantarem numa base unificadora. Levando mais além a ideia bastante publicitada de Ponte de Lima como vila de jardins não compreendo como a autarquia não pensou num conceito de cidade-jardim tão experimentado pelo mundo como modelo de expansão da vila e que uniria a vila e o campo num mesmo sistema urbano. Os jardins não devem estar concentrados todos num mesmo espaço, os corredores verdes deveriam contaminar todo o espaço novo que apareça em Ponte de Lima.


Jornal Alto Minho (11-01-2008)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Empena no Passeio 25 de Abril


Empena de prédio do Passeio 25 de Abril - Ponte de Lima


Empena de prédio na Ribeira - Porto

Até ao início do séc.XX, anteriormente ao rompimento da rua Cardeal Saraiva em direcção ao rio, a fachada de prédios entre as duas torres medievais era continuo. Para concretizar este plano urbanístico um prédio do passeio foi demolido e a Misericórdia perdeu o seu claustro para além do realinhamento completo de algumas edificações confrontantes com a rua Cardeal Saraiva.
Focando-nos no Passeio 25 de Abril, o vazio consequente da demolição do dito prédio foi consolidado do lado esquerdo com um prédio que faz esquina para a rua Cardeal Saraiva. Do lado esquerdo manteve-se um troço do muralha exposta e a empena do actual Restaurante Parisiense que confrontava com a demolição numa situação de "não resolução".
Entretanto desenhou-se um pequeno recanto de homenagem a Teófilo Carneiro. A situação desta alta parede agravou-se quando foi apeado o "Chorão" que dava sombra ao local mas ocultava a muralha. Julgo que esta empena tem um protagonismo desinteressante no conjunto ribeirinho, sem um tratamento que a valorize.

Como referência exponho uma situação semelhante na Ribeira do Porto. Nos anos 40 algum tecido urbano da Ribeira fora demolido numa campanha do Estado Novo que queria modernizar aquela zona da cidade degradada e higienicamente reprovável. Nesta operação encontramos um prédio que ficou com uma empena confrontante com prédios demolidos exposta. Através de um tratamento cromático e de texturas escalonadas pelos vários pisos esta fachada integra-se de forma satisfatória anulando o desinteresse e excessivo relevo que tal fachada poderia ganhar na morfologia urbana.



quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Recuperação I


Actualmente

Exemplo de recuperação onde se interveio simultaneamente em dois prédios contíguos. A recuperação foi aparentemente bem cuidada. Pena no final terem pintado os dois prédios, que têm um desenho de fachada e escalas diferentes, da mesma cor como se fosse o mesmo edifício. Este conjunto de dois prédios e a frente ribeirinha ganhariam mais animação se fossem utilizadas duas cores que os autonomizassem como acontecia originalmente.


Solução favorável


Iluminação II



No seguimento do post anterior não posso deixar de apontar algumas críticas à renovação da iluminação da ponte medieval. Há muito que este monumento merecia um sistema de projecção menos susceptivel ao vandalismo mas não consigo esconder a minha indignação quanto à solução encontrada. Neste tipo de iluminação o último protagonista deverá ser sempre o aparelho de projecção!O que deve prevalecer é a difusão da luz sobre o monumento. Não é o que acontece em Ponte de Lima. Enormes caixas empilham-se linearmente em frente aos arcos mais estreitos e nos arcos maiores a iluminação deveria ser colocada no topo mais alto do arco sendo a luz projectada de cima para baixo e estando automaticamente protegida do vandalismo.

Situação actual

Proposta




Iluminação I






Nos últimos anos assistimos a uma crescente tradição que tem tido o apoio dos limianos; a colocação de iluminação nos vão das janelas da fachada ribeirinha da vila. De ano para ano é feito um “upgrade” onde novos prédios e janelas são adicionadas ao cenário.

O preocupante é esta instalação, que só é activada em período de festas, permanece o ano inteiro no local. De dia apercebemo-nos da quantidade de fios que percorrem e lâmpadas presentes nas fachadas para conseguir tal efeito. Atravessam de prédio em prédio, pelas torres medievais e de forma pouco rigorosa em relação ao desenho das janelas.

É lamentável, depois de todo o esforço de requalificação de fachadas no centro histórico assistamos na maioria dos meses do ano a este ruído visual. Ponte de Lima está novamente a precisar de uma “lavagem de cara”.

Com o sucesso desta iniciativa dificilmente a autarquia voltará atrás mas sugeria que se informasse acerca dos sistemas de iluminação que alguns centros históricos da Europa utilizam e onde empresas de “light designing” servem-se da cidade monumental como objecto para fazerem arte com as luzes e cujos sistemas de projecção se revelam mais discretos. De realçar que a iluminação nocturna consegue fazer maravilhas porque consegue esconder os erros urbanísticos que já se fazem notar à luz do dia.

E porque não realizar todos os anos, como acontece em Berlim um festival de luzes? Deixo aqui algumas imagens..

Berlim-Alemanha

(http://www.city-stiftung-berlin.eu/fileadmin/festival/bilder/illuminationen/illus_2006/altes_museum_01.jpg)


Fourviere-França

(http://www.bo.lyon-france.com/gallery_files/site_1/1790/MP_saone-fourviere_03a.jpg)