sexta-feira, 22 de maio de 2009

A arte de fazer património em Ponte de Lima


É de um puro provincianismo este tipo de obras num espaço que deveria ser restituído ao seu carácter natural de areal. Ponte de Lima desvirtua desta forma um dos seus elementos naturais mais marcantes e do qual deveria orgulhar-se. Há 20 anos qualquer limiano ridicularizaria qualquer tipo de intervenção neste espaço lembrando que a subida do rio encarregar-se-ia de fazer a sua justiça reclamando o seu território. Hoje a autarquia já não pensa no areal como um areal mas sim como um espaço a servir como o estacionamento da vila por excelência argumentando que a saída do parque automóvel deste espaço seria a "machadada" final no comércio. Na realidade a "machada" foi dada recentemente ao eliminar-se o estacionamento nas artérias do centro histórico. Quem vai à Figueira da Foz ou Matosinhos e passeia na marginal observando ao seu lado o vazio que aquele imenso areal provoca, olha para ele como uma oportunidade de lazer e enquadramento paisagístico. Ponte de Lima era detentora de uma característica única em Portugal senão mesmo a nível europeu: um imenso areal fluvial que resistiu à vontade de nele pousar qualquer elemento construtivo. Os concursos de ideias ficaram de lado, urbanistas, arquitectos e designers já não têm voz nesta vila que faz obras sem consulta popular. No último ano tudo é avisado com uma semana de antecedência ou então somos confrontados com as obras
in loco. Projectos globalizadores não existem e tudo é feito pontualmente e com um gosto bastante discutivel. É o caso desta obra que considero dos maiores atentados à paisagem do centro histórico. Um monumento que faz lembrar as obras históricas do regime do Estado Novo, uma espécie de Padrão dos Descobrimentos à beira lima plantado. É a arte de "fazer património" em Ponte de Lima. Primeiro, um pelourinho que se implanta discutivelmente entre as rampas do areal, agora uma rampa que se prolonga em jeito de avenida e a seguir uns cruzamentos construídos em paralelo a cruzarem o areal. Devem seguir-se umas plantações de árvores e quem sabe uns candeeiros, umas bicas de água para a feira, uns canteiros de flores labirínticos et voilá, os limianos acabaram de perder a memória do velho areal que permaneceu virgem durante séculos. Um espaço ecológico em pleno centro histórico que não merecia menor protecção do que a que foi dada às Lagoas. A batalha por devolver o areal aos limianos está assim irremediavelmente perdida por incúria e caprichos de autarcas que em poucos meses foram iluminados com dotes e competências de urbanistas.
Para terminar, lanço um palpite para a nova estátua de bronze a implantar no centro histórico...um diabo a cravar as unhas numa pedra.

13 comentários:

Paulo Afonso disse...

É uma vergonha!!! Ainda não tive a oportunidade de ir ver "in loco" o que estão a fazer, mas parece-me mal... Enfim, mais uma banhada!!! Não seria mal visto uma petição a interromper a obra, qualquer coisa que pudesse impedir qualquer intervenção de carácter fútil nesse espaço... Acho que se ninguém tomar medidas continua-se a projectar impunemente! E isso é que é inadmissível... A vila é para os habitantes viverem com a máxima qualidade possível, não para os visitantes virem para cá. Senão vamos todos morar para a Graciosa (para as belas urbanizações que se têm feito por lá...) e em vez de passarmos de vila a cidade, passamos a "museu". Ou parque de merendas, que ainda é pior mas mais realista...

Anónimo disse...

Isto são obras ilegais, sem parecer do IGESPAR de certeza absoluta, até porque o projecto inicial já ultrapassa em muito os limites da proposta.

Anónimo disse...

O projecto onde se verifica tal ilegalidade

http://1.bp.blogspot.com/__WJ4uivRTkM/SYzQ1jywvoI/AAAAAAAACDc/ie_-42FLaqA/s1600-h/PLANlto+Minho.jpg

Pedro Lima disse...

Não compete aos vereadores da oposição levar uma barbaridade destas ao ministério do ambiente?
Uma estátua nas margens de um rio e leito de cheias !E perguntar da legalidade de tudo isto !

Pedro Lima

Luísa M. disse...

Este poder no municipio continuar a abusar da paciencia de todos nós !Sem desejar fazer politica ,parece coisa dos regimes absolutistas . O que estáo a fazer nas margens do rio lima é vergonhoso!

Luísa M.

Anónimo disse...

É a habital febre de obras antes das eleições, tudo vale para as ganhar, tem que se mostrar obra de qualquer jeito e feitio, o que interessa é mostrar muita obra -mesmo que feita a "martelo" e violando a memória histórica, como é o caso.

Ponte de Lima não merecia isto !

E o que está para vir de esbanjamento de dinheiros publicos até Dezembro, vale tudo !

Monalisa disse...

Pegas aqui numa questão que me causa alguma perplexidade já há uns anos. A maior parte das pessoas vai a Ponte de Lima e acha que está tudo muito bem, que o centro histórico está maravilhoso, etc, etc. Eu moro no centro histórico e gosto disso. É bom, bem melhor do que viver num apartamento com vista para outro. No entanto, olho para aquelas intervenções todas que vão sendo feitas por lá e aquilo não bate certo na minha cabeça. Pus a hipotese de ser esquisitice minha, gosto das coisas muito simples e vejo demasiados 'adereços' no centro histórico. Há uns anos eram uns bancos 'moderníssimos' semeados pela rua do Souto e floreiras com palmeiras ( ! ). Ultimamente a coisa piorou muito, no largo da Matriz nasceram duas estátuas, se bem me lembro 3 candeeiros com um impacto fortíssimo, canteiros, flores, enfim, muito 'ruído'. Reparei também naquele pelourinho e estranhei que estivesse ali. Sinto muito aquele exagero. Pensei que fosse tolice minha. Falo algumas vezes nisso e comparo o trabalho feito em Ponte de Lima ao que foi feito em Guimarães. Nesta última tudo tem um ar genuíno e verdadeiro; as ruas parecem as ruas que foram no passado ( até pelo tipo de calçada escolhida )- não será à toa que é uma cidade património da Unesco. O título do teu post vem definir estes pensamentos que tenho: isto poderá mesmo chamar-se ' a arte de fazer património', ou, dito de outra forma, decorar uma vila como se decorassemos a nossa casa. A nossa não, a dele. A minha só tem o que faz falta e sentido. Estive para aqui com este testamento todo e continuo com os remorsos de pensar nestas coisas e não fazer nada para as alterar.

andré rocha disse...

Ponte de Lima tem uma beleza própria mas para ela sobressair é necessário não provocar muito ruído, não manchar a pintura. Isto não são projectos de base mas sim mera decoração. É o caso do areal. A ponte medieval há décadas que não tem um enquadramento digno de monumento-mor da vila. Não sinto que precisemos de criar monumentos de estatuária que parecerão "pastiches" da estatuária do séc.XIX. No entanto não tenho nada contra a o conteúdo das homenagens a ser realizadas. É apenas uma questão de "forma" como são feitas. Há uns anos imaginaria que o parqueamento a ser criado nas periferias do centro histórico estariam a ser realizadas num sentido de suavizar o areal daquele péssimo postal. Neste momento o areal duplicou o número de automóveis e as consequências péssimas. O trânsito no centro histórico piorou substancialmente.

Anónimo disse...

Concordo inteiramente com a «comparação» entre o trabalho Bem feito em Guimarães... Porque é que não se seguem os bons exemplos.
Ponte de Lima está a perder a autenticidade e a própria identidade. Tudo é pensado para Turista ver.E quem lá vive... não conta? A intervenção no areal é gritante, mesmo para uma simples leiga em termos paisagísticos.
Não reconheço esta vila... como sendo 'NOSSA'.

Luís Malheiro disse...

Gostaria de ser informado se o Ministério do Ambiente deu parecer favorável para esta obra.
Tenho as minhas dúvidas .


Luis Malheiro Ponte de Lima

Amândio S. Dantas disse...

Sou da geração dos seus pais .Por principios de ser - não tenho vocação para o 'fácil elogio ' .
Mas reconheço o magnifico trabalho
cultural e pedagógico do seu 'blog'( eu gosto mais dos jornais) . Pela sua sensibilidade,inteligencia, independência . É bom encontrar 'referências ' na geração mais jovem ... pelos valores maiores do limianismo .E um espírito aberto .

Amândio S. Dantas

L.A. disse...

Concordo com ASD . Jovens como o André fazem falta à nossa terra !




L.A.

R.C. disse...

É com certo 'pudor ' que aqui o digo . Vios chegar no domingo . Os autocarros estacionavam perto da obra ao general Brutos . E virados para o rio ali mesmo ' vertiam águas ' . Ponte de Lima chegou a isto !!

R.C.