quarta-feira, 15 de julho de 2009
Passeio (I)
É difícil resistir a publicar esta fotografia de meados dos anos 20 do século passado no momento em que o monumento de homenagem ao folclore começa a assentar os seus alicerces em frente do mercado municipal. Ao observarmos atentamente a fotografia do Passeio 25 de Abril podemos constatar que toda a linha de paredão estava claramente desenhada como uma peça essencial na divisão daquele espaço natural, que é o rio e o areal, do espaço urbano construído que corresponde ao casario da vila. As rampas eram os únicos elementos mediadores destes dois espaços. Para além disto, este talude em pedra enquadrava a panorâmica da vila desde a capela de S. João até o outro extremo rematado pela Capela de Nossa Senhora da Guia. De certa forma apresentava-se como uma "base" onde a vila assentava. Infelizmente, nas últimas décadas foram sendo adicionadas demasiadas peças defronte dessa linha que acabaram por esconder esta característica. Refiro-me às novas linhas de árvores paralelas à avenida de S.João, Pelourinho, espaços verdes, assoreamento e nova estatuária. O próprio micro-clima gerado por estes elementos naturais modificou-se; hoje é um espaço extremamente seco. Reparamos também que todo o passeio ribeirinho era um espaço bucólico, de contemplação do rio, ponte e toda a paisagem envolvente. Como qualquer vila ou cidade da província em pleno séc. XIX, era uma vila melancólica. Se esta característica não deixa saudades no estado de espírito da comunidade, o contrário não se aplica ao primôr com que era desenhado o espaço público nesta época. O "espírito do lugar" é algo difícil de classificar e até de preservar tal é a sua subjectividade. No entanto, podemos concluir que Ponte de Lima, apesar do folclore ter fortes raízes, nunca foi uma vila "folclórica".
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8 comentários:
Tens razão André, mas a génese da marginal nunca é relembrada a quando das intervenções. Pode ser que a próxima administração local resolva encarar o touro pelos cornos e se debruce sobre o rio em vez de lhe voltar costas.
Parabéns pelo projecto da creche em Itália e pelos Centros Escolares em território Nacional, um abraço Duarte
E já agora que não coloque "leigos" a planear e a "desenhar". Porque os políticos decidem mas devem-no fazer de forma esclarecida.
A fotofografia é de uma cheia junto ao passeio -lembro-me nos anos 6o de ver cheias assim ... quase em todo o inverno .Certamente que a arquitectura - e sabe-o melhor do que eu - move-se no tempo . Mas esta beleza dos anos 2o está cheia de modernidade.
Ponte de Lima começa a perder a sua
alma. Parece deixou de ter valor !
Fernanda Lima
Concordando aqui com a Fernanda, esta foto tem um ar mais arrojado olhando ao ano em que a mesma data do que agora, que mais parece um rancho folclórico sem alma alguma. Estamos com ar de vila comercial, sem alma e sem o tal "espírito do lugar" como refere o André. Também há um postal que posso ver se te arranjo a imagem, do Largo de Camões que é absolutamente deliciosa.
Ontem inclusive assisti a uma coisa esquisita e que espero não vir a receber essa notícia no sul :)
Vi um fulano no seu belo jipe a descer a rua da Fonte da Vila, (a qual me parece mais estreita para que possa ter trânsito nos dois sentidos e ainda estacionamento) a tal velocidade que logicamente desfez a curva em cima do passeio, alguém ainda vai pagar caro estas bricolage.
Faço .neste espaço que me é concedido , um apelo - ganhe quem ganhar as eleições : estudem um projecto para a recuperação de toda a frente ribeirinha . Temos na nossa terra jovens arquitectos com capacidade para o fazer !
Rosa Costa
Enquanto houver pessoas como o André acho que está garantida a coerência do espírito do lugar. Não podendo este estar fechado à modernidade decerto que tentará resistir a mais agressões,não se deixará conspurcar pelo espirito dos areeiros e outros elementos sem cultura que compôem o executivo municipal. A colagem destes a uma pretensa alma folclórica que quer fazer do folclore mais do que um passatempo a que recorriam os trabalhadores rurais no fim da jornada agricola é um oportunismo que não tem consistencia pela inexistência nesta vila de qualquer tradição. ponham o monumento na Correlhã que lá sim é o berço do folclore pese embora com pouco mais de meio século quando noutras zonas do País já havia folclore organizado há muitos anos.
Estou de acordo com trigalfa . Mas só um grande movimento civico das forças pontelimenses podem vir a travar
tanto desvario ! Mas temo que já seja tarde ...
Luis Pereira
Caro André , gostaria de ver, comentada por si , aquela construção de esplanada abarracada
ao lado do Mercado Municipal .
Parece que esta gente ensandeceu !
Aquele olhar de ver os espaços - que os nossos arquitectos nos ensinam a sentir - começam a morrer em Ponte de Lima .
Rosa Costa
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