segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Arquitectura desaparecida em Ponte de Lima (VII)


até 1950

actualmente

O prédio que fazia o gaveto do Largo de S.José com a Rua Inácio Perestrelo sofreu com a política de realinhamentos urbanos que na primeira metade do século passado procuraram redesenhar alguns perfis de ruas do centro urbano. Era um edifício claramente voltado para o Largo de S.José como denota a nobreza da fachada de vão simétricos, cantarias sólidas e varandas suportadas por mísulas. Esta fachada típica do séc. XVIII rematava o perfil da Rua da Abadia com a mesma linguagem arquitectónica caracterizada por varandas de ferro com um certo lavor artístico, neste caso pelo desenho de harpas nas guardas. No entanto, esta fachada tinha no seu desenho um certo ar de palacete urbano atribuindo ao largo adjacente a dignidade que um espaço público de confluência exige. O prédio tinha 3 pisos sendo o último muito provavelmente uma adicção posterior. Por outro lado, a fachada que se volta para a Rua Inácio Perestrelo tem um carácter secundário, de maior pobreza de desenho, com vãos dispostos com uma geometria pouco clara. O constraste entre o cheio e o vazio entre vãos e a solidez das paredes denuncia uma ancestralidade anterior à era de setecentos e talvez a origem do prédio seja contemporânea do
prédio dos Marinho Pinto também demolido na mesma rua. Este edifício tinha uma implantação que difere do actual prédio construído nos anos 50 do séc.XX. O antigo prédio ocupava parte do Largo de S.José e direccionava o fluxo da rua da Abadia para a Rua Beato Francisco Pacheco provocando um ligeiro alargamento da Rua Inácio Perestrelo. O prédio foi demolido no final da primeira metade do século passado e as fotos aqui apresentadas registam os primeiros momentos das obras de demolição, já sem as caixilharias e os operários no topo do prédio. Está patente a preocupação do autor das mesmas em fixar um momento urbano que pela sua centralidade não passaria despercebido na vida quotidiana da vila. No seu lugar emergiu outro prédio de escala exagerada, construida com acabamentos que não fazem a ponte com o restante casario e que, em conjunto com o prédio vizinho (actual BPI), ambicionou marcar com uma nova imagem simbólica de uma modernidade ingénua mas bem presente nas vilas e cidades do país e que Ponte de Lima não quis permanecer alheada.

Fontes: Ponte de Lima-Uma Vila Histórica no Minho, p.267
Revista Arquivo de Ponte de Lima

8 comentários:

Luis Pereira Rocha disse...

Gosto do seu trabalho .O blogue vai-nos dando a conhecer as mudanças urbanas na nossa vila. Nasci em 1950.Já não conheci o imóvel da fotografia.

Luís Pereira Rocha

Susana Amorim disse...

Sem desejar desmerecer ninguém . O seu Blog na arquitectura e a Minha Sebenta de JSV no espaço leitura /livros são do melhor que conheço no Alto Minho.

Susana Amorim

trigalfa disse...

Quando era mais jovem havia um terreno vazio naquele lugar e viam-se as paredes laterais das casas do sr. Rogério Guerra e da Familia do Tito Morais. Jogava-se à bola e o Sr. Martins dito Chapeleiro comrpou o terreno e lá edificou o edificio actual depois de várias diverGências com a Câmara. Para nós tapou um "escarro", mas claro que falta saber as razões por que foi deitado abaixo o edifico anterior, quem o deitou abaixo, etc. O prédio dos Marinho Pinto durou mais uns anos e foi um atentado maior cometido pelo sr. Martins dito da Havaneza que tinha grande influência, tendo sido vereador câmarário.

Anónimo disse...

Mas o prédio não foi construído muito antes do Martins ser vereador?

Anónimo disse...

O Martins pai também foi vereador.

Anónimo disse...

As fortunas só se ganham quando se está ligado a politica.

Mais um ....

Luis M. disse...

Não tragam a inveja para o Blog.
Mas que se cometeram atrocidades contra o nosso património construido não é mentira nenhuma!
Lembro-me até que na altura - já tenho 58 anos - inventaram uma postura camararia que obrigava os bares e tascas a ter portas de vai- e-vem no interior e todas pintadas de verde !
Luis M. Ponte de Lima

Carlos Martins disse...

O mal deste país é que a nossa urbanização escuta pouco os nossos arquitectos e dá ouvidos ao pato-bravo ... E todos sabemos o porquê das coisas assim acontecerem. ontem como hoje ....

Carlos Martins Arcozelo PL