quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Ponte de Lima


Encontrei este interessante texto sobre Ponte de Lima de uma jovem arquitecta em que nele registou a sua passagem pela vila:

ponte de lima

Para dizer como arquitectura preenche a vida. O acto de construir. Construir como acto que se inicia na concepção e termina muito depois da obra acabada. Construir como acto que se inicia antes da concepção, no envolvimento cultural com o sítio. Siza. O sítio – paradigma da nossa – minha - formação. Hoje a cultura do lugar parece que passou de moda. Agora que provavelmente ela deveria estar muito mais presente, não como a defesa contra o global, assim explicitamente defendida pelas correntes do poder, mas como algo que nos identifica globalmente, sem preconceito e sem xenofobias. Contra a tentação da marca e do comércio. Contra a afirmação do arquitecto e mais pela afirmação do construtor. Hoje saber construir significa, antes do mais, interpretar para apagar e não para marcar. Encontrar o lugar que, de um modo indelével, tem que ser tocado pela mão do homem para emanar um novo significado. Passeei em Ponte de Lima, com um rio cheio e lasso, onde se lia corrente, que teimava em contrariar a sua denominação de rio morto. O Lima estava cheio, vital. Os patos-reais deixavam-se ir ao sabor da água e levantavam voo rasante por entre as árvores e arbustos submersos pelo meio. Os pescadores, equipados e cantantes, debatiam-se com a corrente à espera das trutas. Os muros húmidos mostravam texturas e cores feitas de inertes e da vida dos líquenes, dos pequenos malmequeres, dos musgos e das violetas bravas.A água da chuva reluzia nos campos verdes e planos já sem os testemunhos das culturas tradicionais. Restam pequenos pontos brancos desenhados pela flor da couve galega e a amarela dos grelos e dos hortos. Os muros também eram ruínas. O tempo parou por entre os nossos passos contínuos ao longo da margem debaixo do olhar cirúrgico de arquitectos… e não só. Porque neste não só, estará o limite para aquilo que o arquitecto anseia fazer, marcar o lugar. Estará o bom senso de nos entendermos enquanto prolongamento do natural, culturalmente moldados, para dele sabermos colher toda a sua força vital.

Maria

http://conta-mina.blogspot.com/2006/03/ponte-de-lima.html

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