segunda-feira, 17 de março de 2008

Muros rurais







Temos assistido à destruição de grande parte dos antigos sistemas de muros de alvenaria do território rural limiano. Estes antigos muros que delimitavam as propriedades agrícolas e conformavam estreitos caminhos de acesso, alguns deles com latadas de vinha sobrepostas, são uma importante marca caracterizadora do nosso espaço físico rural. E se isto acontece deve-se, entre outros, aos seguintes factores:
-a inexistência de um plano de protecção, tal como existe para a destruição de espigueiros e outros elementos ancestrais de arquitectura rural e de apoio agrícola;
-a pouca sensibilização dos proprietários e dos projectistas para esta questão ;
-a obrigatoriedade, sempre que se constrói uma habitação confrontante com vias em espaço rural, de recuar o muro de forma a garantir uma baía de estacionamento. Desta forma o antigo muro de alvenaria que faceava a estrada terá de ser destruído, sendo este normalmente redesenhado através de um sistema construtivo diferente do tradicional, com o betão ou tijolo rebocado adaptado às novas exigências. Parece-me inoportuna esta regra que obriga ao recuo do muro para estacionamento quando o espaço rural é tão generoso.
Através de pequenos "rasgos" pontuais nos muros de alvenaria originais para serventia automóvel poderíamos conservar estes sistemas murados sem graves prejuízos para a estética da nossa ruralidade.

2 comentários:

Anónimo disse...

André vou lançar-te um desafio: experimenta pegar numa planta (pode ser esc:1/10 000) da tão retratada vila de Ponte de Lima e faz uma análise crítica do diagrama de crescimento do território.
Estuda os sistemas urbanos e repara na rede de equipamento colectivo…como é escassa!...,nas infra-estruturas básicas como uma rede de saneamento e água canalizada, que ainda não chegam a grande parte das freguesias do concelho... repara no que é povoamento disperso, aquela mancha de pequenas "grandes" casas, que crescem associadas a vias secundárias ou caminhos públicos. Logradouros? Frentes rua? Espaços de descompressão e praças de aglutinação? O que é isso? Conceitos eclécticos, ou melhor, pertencentes a uma elite chamada arquitectos ou arquitectos paisagistas.
Verás a ruralidade no sentido lato e a inexistência de qualquer critério de urbanidade associado. Estuda os centros cívicos das freguesias e respectivos equipamentos sociais,os equipamentos desportivos, de saúde e escolares e repara que o centro histórico assim como as empenas menos tratadas, os toldos, a má sinalização e a luminária da ponte medieval, que tu já várias vezes referiste, parece ser o menor dos problemas de um concelho que almeja por grandes intervenções coerentes.
Está a desenhar-se um plano de urbanização estratégico de expansão que garanta um crescimento urbano capaz de estabelecer um compromisso entre a ruralidade e a contemporaneidade. Têm-se desenhado equipamentos básicos e necessários como os centros educativos que dão agora resposta aos problemas de isolamento e à falta de uma rede de transportes públicos capaz de interligar e servir o concelho de Ponte de Lima. Existe agora uma rede de escolas a trabalhar em igualdade de circunstancias. Estão a desenhar-se ,ainda que não à velocidade desejada, respostas às necessidades primárias da população.
Transformar o diagrama disperso num todo interligado é o desafio. Polos de atracção para a população limiana na generalidade são imperativos...propõe programa e novos equipamentos, desenha esquemas de intervenção,como os plano de corredores ecológicos ou modelos de cidade jardim que já várias vezes enunciaste que muito provavelmente foram os conceitos que despoletaram e alicerçaram os trilhos das eco-vias, que tocam já na totalidade das freguesias Limianas, compondo um circuito e circulo pedonal, que não se vê nas grandes cidades.
Faz o percurso de reconhecimento das mesmas ecovias e desenha a quantidade de elementos arquitectónicos de tradição vernacular em que tropeças. Integra isto tudo no teu diário de bordo e desenvolve um plano de pormenor que pode ser uma unidade operativa do Plano de urbanização: os corredores ecológicos do lima.
Vais descobrir Ponte de Lima um concelho carente de boa arquitectura. Muito mais que a dicotomia do centro histórico e o loteamento da Bouça do Abade a tocar-se com as imediações da quinta do Merim.
Sim senhor, começa a falar-se em arquitectura em Ponte de Lima...

andré rocha disse...

É sem dúvida um desafio interessante mas também ambicioso. Seria a longo prazo a razão de ser do blog. Um bom estudo para a autarquia encomendar a uma equipa multidisciplinar pois só desta forma teríamos uma estratégia mais completa e competente. No entanto é intenção tocar no maior número de pontos possíveis. Para isso é de salutar a discussão destes temas por parte dos leitores, colocando sugestões e propostas, contributos de outras especialidades e de uma forma descomprometida e apartidária. A denúncia de um problema é apenas o primeiro passo para a sua resolução. Os mecanismos de apropriação do território escapa muitas vezes ao controlo de arquitectos e urbanistas. Daí a necessidade da confluência de vários saberes coordenados.
Este é um espaço que pretende lançar questões, introduzir referências, falar de arquitectura para não-arquitectos e mostrar que existem outras formas de fazer, num período de grande expansão da vila e alteração da paisagem rural e onde muito pode ser salvaguardado. Sempre com uma opinião própria(inevitável num blog unipessoal), assumidamente voltada para a minha área de especialização mas também com uma atitude por vezes ingénua e sonhadora de acreditar que tudo poderia estar "ainda" melhor (talvez por não sentir o peso da idade e das derrotas que logo surgirão).
Tenho consciência da maior ou menor gravidade/prioridade dos apontamentos que faço. Obviamente o problema dos toldos , da empena ou do poste de iluminação que se coloca sobre a Villa Belmira é incomparável com a fragmentação do território rural ou a descaracterização desse património, no entanto por trás destes pequenos ou grandes actos está uma mesma linha de consciência colectiva que merece ser desfeita.
O trabalho sobre o centro histórico é notável e de facto o conceito de cidade-jardim está lá bem presente e funciona. As recuperações, a integração de arquitectura contemporânea, a ecovia, os jardins (sendo discutível a transformação daquelas belas quintas que rodeiam a vila) são um caso de sucesso inegável e a continuar. Daí referenciar tanto o centro histórico, porque muitas das ideias que poderiam contaminar a nova expansão estão lá. Talvez os novos loteamentos estejam a ser construídos como meros dormitórios mas a realidade é que assistimos a uma maior permanência dos limianos nessa zona, logo é preciso "fazer cidade" de uma forma especial e melhor do que se tem feito pelo país.
É assim um blog aberto à discussão de uma futura vila que continuemos a orgulhar.

André Rocha