terça-feira, 18 de março de 2008

A nova muralha de Ponte de Lima


O Poder Limiano insiste que a vila está a crescer de forma equilibrada e agradável para além do perímetro do centro histórico comparativamente com outras cidades portuguesas. E neste ponto a autarquia tem razão. A realidade é que é praticamente impossível encontrar uma cidade portuguesa que seja referência como modelo de expansão do seu tecido urbano sendo por isso uma vitória desconsoladora. Obviamente o crescimento populacional da vila não proporcionou um descontrolo periférico de uma cidade como Braga ou Massamá mas se esse fosse o caso, pela política de planeamento que a autarquia está a praticar, não duvido que rapidamente tomaria este caminho. Como limiano orgulhoso, habituado à politica ambiciosa levada a cabo pela autarquia numa aposta continua pelo pioneirismo em várias áreas, não posso deixar de mostrar o meu desagrado pelo rumo que o planeamento urbano tem tomado. Não encontrando no país as referências necessárias, Ponte de Lima deveria olhar para o exemplo de algumas cidades europeias onde são promovidos concursos internacionais de urbanismo para novas expansões da cidade, tal como aconteceu com o plano de Valorização das Margens do Lima, e onde equipas pluridisciplinares de urbanistas, engenheiros, arquitectos, historiadores ou ecologistas unem as suas especialidades em prol de propostas criativas, coerentes e sustentáveis e que se relacionam com o planeamento económico, jurídico, ambiental, habitacional, da mobilidade e infraestruturas dessas cidades. Ao analisarmos as propostas vencedoras para essas cidades apercebemo-nos da forte aposta na valorização do espaço comunitário, valor que tem sido esquecido no país e em Ponte de Lima. O urbanismo em Portugal não tem uma verdadeira doutrina resultante de uma tradição ou do fruto de boas práticas. Não existe um espírito de cooperação na área ou um entendimento do significado da missão ou do serviço público que o urbanismo deveria servir. O que deveria ser um urbanismo de ideias fortes como motor dessa nova cidade, são apenas planos feitos por "desenhadores matemáticos" que apenas cumprem os mínimos que a legislação obriga: se a lei diz que a largura mínima do passeio deve ser 2,50m é assim que será desenhado. Temos um urbanismo onde uma figura tão essencial como o arquitecto paisagista não tem lugar. A nova vila não teve a mesma dedicação impressa no centro histórico na hierarquização de trânsito, espaços de lazer ou de leitura do espaço urbano. Esta situação agrava-se quando a maioria dos limianos estão a fixar-se nas zonas novas e portanto é aí que permanecem grande parte dos seus dias, sobretudo os mais jovens (zona das escolas, tribunal, via Foral D. Teresa). Hoje construímos áreas territoriais que anteriormente demorávamos séculos a construir, daí a responsabilidade acrescida. Se Ponte de Lima quiser afirmar-se como referência de "cidade" do futuro e ambientalmente sustentável, terá de focar-se em alguns aspectos dos quais falarei de seguida. É essencial um investimento no bom desenho urbano, não só da arquitectura dos edifícios em si mas também do espaço entre estes. Considero que neste ponto Ponte de Lima tem seguído o caminho da vulgaridade. Os perfis das ruas são desinteressantes com o alcatrão e betão a dominar. Os espaços verdes são apenas pequenos rectângulos sobrantes de relva e sem escala para poderem vocacionar-se como verdadeiros espaços de lazer. Seria preferível termos os edifícios mais concentrados e ocupando menos território, gerando uma dinâmica de rua, para no espaço sobrante localizarmos parques de apoio bem proporcionados. Estes parques funcionariam como espaços de transição entre as urbanizações e o Monte da Madalena, que corre o risco de ver os seus limites marcados por traseiras de habitações. Ponte de Lima, ao gerar ruas atractivas, estará a desenvolver a sua qualidade de vida e segurança. Arquitectura e urbanismo não são apenas estética; têm um papel social, moral e de dimensões políticas. Considero que o bom espaço urbano faz o bom cidadão. É verdade que o modelo urbano da periferia é diferente do centro histórico mas poderia oferecer uma forma diferente de viver a vila , mais ligada à natureza. Não temos nas novas urbanizações uma praça análoga ao Largo de Camões onde pudesse confluir alguns serviços essenciais e que fosse um pólo dinamizador de uma nova urbanidade. Temos uma nova zona urbana feita para o automóvel; ruas largas e alcatrão são um incentivo a um trânsito de velocidade e desencorajador de hábitos pedonais. Não planeamos uma rede de ciclovias onde a nova vila pudesse conciliar-se com a antiga numa interacção com o centro histórico, jardins e ecovia nas margens do lima e funcionando de forma autónoma do automóvel. A cidade do futuro é a cidade que proporciona e incentiva condições para o uso de transportes alternativos. A nova vila não tem parques qualificados. O único espaço verde surgiu apenas devido à apropriação por parte de crianças (tal era a necessidade dele) e que levou a autarquia a anular a sua capacidade construtiva. Refiro-me ao terreno contíguo à nova creche. Seria interessante criar uma rede linear de espaços verdes que trespassariam o centro histórico (aproveitando parques existentes como a Lapa ou Avenida António Feijó) e novas urbanizações da vila (através da criação de novos parques) num percurso que terminaria no parque do Monte da Madalena e começaria nos parques e jardins criados junto às margens do Lima num aproveitamento da sua dinâmica. Percurso este que se complementaria com a rede de ciclovias acima descritas. Considero que Ponte de Lima necessita de uma segunda muralha. Uma muralha virtual que trave a expansão de novas urbanizações e concentre esforços na revitalização e qualificação de espaços já existentes com duas ou três décadas e que dão sinais de degradação como a zona das escolas, bairros sociais adjacentes ao centro comercial Rio Lima ou a via Foral D. Teresa. Que essa muralha seja um "anel verde" que faça uma transição harmoniosa com o sistema ambiental que rodeia o espaço urbano. É importante que os parques não se concentrem apenas nas margens do rio mas lancem "braços" que abracem o Monte da Madalena e interpenetrem as novas urbanizações numa rede coerente de corredores verdes.

1 comentário:

Anónimo disse...

É pá. Tens toda a razão. Mas enquanto as construções forem pagas a peso de ouro...

Ponham os olhos em cidades como Paris, Bruxelas, Berlim, Londres.
E aprendam qualquer coisa com eles...