
Esta será das intervenções mais radicais efectuadas no centro histórico de Ponte de Lima e frequentemente esquecida pela população em geral. No entanto, após tomar conhecimento deste facto, é difícil não imaginar, a cada vez que atravessamos o Largo da Feira, que todos os prédios confrontantes têm um piso aterrado abaixo dos nossos pés. Até 1930 o Largo da Feira processava-se sensivelmente à cota do areal comunicando com o Largo de Camões através de uma estreita escada no paredão. A ponte relacionava-se proximamente com estas habitações e apresentava-se com mais dois arcos visíveis. É curioso o facto de que, até 1930, o passeio interligava-se directamente com a Avenida de S. João através da passagem sob os arcos da ponte (momento recuperado com a nova intervenção do areal, embora nesta última, a ponte medieval pareça um obstáculo no percurso e não uma das razões). O aparecimento do automóvel obrigou à necessidade de um desafogo na entrada da ponte medieval a partir do Largo de Camões. O rés-do-chão destas habitações viradas para o Largo da Feira eram regularmente fustigadas por cheias do rio Lima. A câmara municipal procedeu ao aterro de dois dos arcos da ponte e do piso térreo destas habitações, passando o Largo da Feira a funcionar nivelado com o Largo de Camões. Numa das fotos apresentadas as obras de aterro encontram-se já em execução. Constituía um momentos mais interessantes do casario do centro histórico, com os prédios a relacionarem-se de forma diversificada com as várias ruas. Um espaço urbano que processava-se a duas alturas simultaneamente. Após este aterro a frente da vila ganhou um paredão excessivo que quebrou a relação entre o Largo de Camões e o Areal, facto que ainda hoje se verifica.
planta e fotos: Ontem-Hoje, O Largo da Feira, Revista Arquivo Municipal de Ponte de Lima
1 comentário:
A avaliar nomeadamente pelos automóveis, as fotos mencionadas como sendo dos anos 80 deverão ser de facto do início dos anos 70 ou mesmo anteriores. De resto, creio que o Posto da Polícia de Viação e Trânsito que se encontra à esquerda, numa das fotos, já em meados dos anos setenta servia de posto de venda de jornais e artigos afins.
Colocando de lado este pormenor, a questão do passeio coloca o problema da intervenção anteriormente efectuada ou seja, nos começos do século XX uma vez que também ele não existia à altura em que as muralhas da vila foram derrubadas pelos "arautos do progresso". Nessa perspectiva, deveríamos então recuperar o que ainda é possível ou seja, desenterrar o que resta da ponte que se encontra sepultada no Largo de Camões. Recordo que, por volta de 1983, comecei através do jornal "Cardeal Saraiva" por chamar a atenção para o interesse em recuperar as ameias da ponte que eté então se encontravam abandonadas no leito do rio Lima, o que só veio a verificar-se muito anos decorridos...
Importa saber a partir de que ponto se deve recuperar o património uma vez que, como qualquer monumento, é objecto de sucessivas intervenções ao longo da História.
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